O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar as melhores maneiras de ajudar outras pessoas e as colocar em prática. É, em parte, uma área de pesquisa, que procura identificar os problemas mais prementes do mundo e as melhores soluções para eles e, em parte, uma comunidade prática que procura usar essas descobertas para fazer o bem.
Este projeto é importante porque, se muitas tentativas de fazer o bem falham, outras são extremamente bem sucedidas. Por exemplo, algumas instituições de caridade ajudam 100 ou até 1.000 vezes mais pessoas do que outras, com a mesma quantidade de recursos.
Isso significa que se pensarmos com cuidado sobre as melhores maneiras de ajudar, podemos fazer muito mais para enfrentar os maiores problemas do mundo.
O Altruísmo Eficaz foi elaborado por professores da Universidade Oxford, mas já se espalhou para todo o mundo e está sendo aplicado por dezenas de milhares de pessoas em mais de 70 países.[1]
Pessoas inspiradas pelo Altruísmo Eficaz trabalham em projetos que variam de financiamento da distribuição de 200 milhões de mosquiteiros contra a malária a pesquisa acadêmica sobre o futuro da IA, a campanhas políticas para evitar a próxima pandemia.
Elas não estão unidas por uma solução particular para os problemas do mundo, mas por uma forma de pensar. Veja aqui alguns exemplos do que fizeram até agora, bem como os valores que as unem:
Quais são alguns exemplos do altruísmo eficaz na prática?
Evitar a próxima pandemia
Porque isso é importante?
As pessoas no altruísmo eficaz tipicamente tentam identificar causas de grande escala, tratáveis e que são injustamente negligenciadas[2], a fim de encontrar aquelas nos quais uma pessoa a mais possa exercer o maior impacto. Um assunto que parece atender a esses critérios é a prevenção de pandemias.
Os pesquisadores do altruísmo eficaz defendem, desde 2014, que, dado o histórico de quase ocorrências, havia uma boa chance de que uma grande pandemia pudesse ocorrer ainda no nosso tempo.
Mas, preparar-se para a próxima pandemia era, e ainda é, muito subfinanciado em relação a outras questões globais. Por exemplo, nos Estados Unidos essa iniciativa recebeu cerca de US$8 bilhões de investimento por ano, comparado a cerca de US$280 bilhões por ano gasto em contraterrorismo[3].
É claro que evitar ataques terroristas é importante. Mas a escala desse problema parece ser menor. Por exemplo, apenas focando no número de mortes, nos últimos 50 anos, cerca de 500.000 pessoas foram mortas pelo terrorismo. Mas mais de 21 milhões de pessoas morreram apenas de COVID-19[4]– e 40 milhões morreram de HIV/AIDS[5].
E uma futura pandemia poderia ser muito pior do que a COVID-19: não há como excluir o risco de uma doença futura mais infecciosa que a variante Omicron e tão mortal quanto a varíola.
No altruísmo eficaz, quando se identifica um problema desprezado, a comunidade procura as soluções negligenciadas para esses problemas, que poderiam fazer uma grande diferença, o que nos leva a…
Alguns exemplos do que tem sido feito
Em 2016, a Open Philanthropy – uma fundação inspirada no altruísmo eficaz – se tornou o maior financiador do Johns Hopkins Center for Health Security, que é um dos grupos que faz pesquisas para identificar as melhores respostas políticas para pandemias, e foi um grupo importante na resposta à COVID-19[6].
Quando surgiu a COVID-19, membros da comunidade fundaram a 1DaySooner, uma empresa sem fins lucrativos para defender o Desafio dos Testes em Seres Humanos (mais conhecidos no Brasil como “Estudos de infecção humana controlada – EIHC”). Neste tipo de teste de vacina, voluntários saudáveis são deliberadamente infectados com a doença, o que permite uma testagem quase instantânea da vacina. Como uma das únicas defensoras dessa intervenção, a 1DaySooner registrou mais de 30.000 voluntários[7], e desempenhou um papel importante para iniciar o primeiro Desafio dos Testes em Seres Humanos para a Covid-19 no mundo. Esse modelo poderá ser replicado quando enfrentarmos a próxima pandemia.
Membros da comunidade de altruísmo eficaz ajudaram a criar o Programa Apollo para Defesa Biológica, uma proposta de muitos milhões de dólares destinada a evitar a próxima pandemia.
Fornecer provisões médicas básicas em países pobres
Porque isso é importante?
É comum dizer que a caridade começa em casa, mas no altruísmo eficaz, a caridade começa onde mais podemos ajudar. E isso normalmente significa focar nas pessoas que são mais negligenciadas pelo sistema atual – em geral, aquelas que estão mais distantes.
Principalmente nos países mais pobres, mais de 700 milhões de pessoas vivem com menos de US$1,90 por dia[8].
Por outro lado, um norte-americano perto da linha da pobreza vive com 20 vezes mais do que isso, e o norte americano com ensino médio em geral vive com 107 vezes mais do que isso. Isso os coloca entre os 1,3% de pessoas com maior renda, na média global[9]. (Esses valores foram ajustados considerando que o dinheiro rende mais em países mais pobres).
A desigualdade global é extremamente alta. Por isso, a transferência de recursos para as pessoas muito mais pobres no mundo pode fazer um bem enorme. Em países mais ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido, em geral, os governos estão mais dispostos a gastar mais de US$1 milhão para salvar uma vida[10]. Isso é muito válido, mas nos países mais pobres do mundo, o custo para salvar uma vida é muito mais baixo.
A GiveWell é uma organização que faz pesquisas aprofundadas para encontrar os projetos de saúde e desenvolvimento mais baseados em evidências e custo-benefício. Ela descobriu que, embora muitas intervenções de ajuda não funcionem, outras, como o fornecimento de mosquiteiros tratados com inseticidas, podem salvar a vida de uma criança gastando, em média, US$5.500. Isso é 180 vezes menos do que o habitual[11].
Mais de 110.000 doadores individuais têm usado as pesquisas da GiveWell’s para constribuir com mais de US$1 bilhão de dólares com as instituições de caridade recomendadas, apoiando organizações como a Against Malaria Foundation (Fundação Contra a Malária), que já distribuiu mais de 200 milhões de mosquiteiros tratados com inseticida. De forma coletiva, estima-se que esses esforços tenham salvado mais de 159.000 vidas[12].
Além da caridade, é possível ajudar as pessoas mais pobres do mundo por meio dos negócios. A Wave é uma empresa de tecnologia fundada por membros da comunidade de altruísmo eficaz, que permite que as pessoas transfiram dinheiro para diversos países africanos de maneira mais rápida e muitas vezes mais barata do que por meio dos serviços comumente usados. É bastante útil para migrantes que enviam dinheiro para suas famílias nos seus países de origem, e tem sido usada por mais de 800.000 pessoas em países como Quênia, Uganda e Senegal. Apenas no Senegal, a Wave economizou centenas de milhares de dólares em taxas de transferência – cerca de 1% do PIB do país[13].
Ajudando a criar a área de pesquisa alinhada a IA
Porque isso é importante?
A inteligência artificial está progredindo rapidamente. Os principais modelos de IA estão duplicando sua capacidade de computação a cada três ou quatro meses. Atualmente eles podem participar de uma conversa limitada, resolver problemas matemáticos a nível universitário, explicar piadas, gerar imagens extremamente realistas para textos e fazer uma codificação básica[14]. Nada disso era possível dez anos atrás.
O objetivo maior dos principais laboratórios de IA é desenvolver uma IA que seja tão boa ou melhor do que os seres humanos em todas as tarefas. É extremamente difícil prever o futuro da tecnologia, mas vários debates e pesquisas de especialistas sugerem que é mais provável que essa proeza seja alcançada neste século, do que não seja alcançada. E, de acordo com modelos econômicos padrão, quando a IA comum puder atingir o nível de desempenho dos humanos, o progresso tecnológico pode se acelerar enormemente.
O resultado disso seria uma transformação enorme, talvez de significado igual ou maior do que a revolução industrial nos anos 1800. Se tratada adequadamente, essa transformação pode trazer abundância e prosperidade para todas as pessoas. Se tratada de maneira insatisfatória, pode resultar em concentração extrema de poder nas mãos de uma elite minúscula.
No pior caso, podemos perder controle dos próprios sistemas de IA. Incapazes de governar seres com uma capacidade muito maior do que a nossa, nos veríamos com um controle muito pequeno do nosso futuro, como o controle que os chimpanzés têm sobre os seus.
Isso significa que esse assunto poderia não apenas ter um impacto enorme nas gerações presentes, mas também nas gerações futuras. Isso torna especialmente urgente, a partir da perspectiva do longotermismo (N.R.: também chamado de longoprazismo – definição em português aqui) uma escola de pensamento que sustenta que melhorar o futuro a longo prazo é uma prioridade moral fundamental de nosso tempo.
À maneira como podemos garantir que os sistemas de IA continuem a propagar os valores humanos, mesmo que se tornem iguais (ou superiores) aos humanos na sua capacidades denomina-se problema de Alinhamento de IA, e resolvê-lo exige avanços na ciência da informática.
Apesar da sua possível importância histórica, apenas poucas centenas de pesquisadores trabalham neste problema, comparado a dezenas de milhares que trrabalham para tornar os sistemas de IA mais poderosos[15].
Esse assunto pode parecer incomum ou surpreendente mas, uma vez que é possível fazer um bem maior com o trabalho em questões que outros estão negligenciando, deveríamos esperar que áreas mais impactantes trabalhassem no sentido de serem menos convencionais. Também é difícil resumir isso em alguns parágrafos, então se você quiser explorar mais, recomendamos começar por aqui, aqui e aqui.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma prioridade é simplesmente contar a mais pessoas sobre o assunto. O livro Superinteligência de Nick Bostrom – um pesquisador da comunidade do altruísmo eficaz – publicado em 2014, defende a importância do alinhamento da IA, e se tornou um best seller do New York Times.
Outra prioridade é construir uma área de pesquisa focada nesse problema. Por exemplo, o pioneiro da IA, Stuart Russell, e outros inspirados pelo altruísmo eficaz, fundaram o The Center for Human-Compatible AI na Universidade da Califórnia em Berkeley. Esse instituto de pesquisa busca desenvovler um novo paradigma de desenvolvimento de IA “compatível com os humanos”.
Outros centros ajudaram a iniciar equipes focadas no alinhamento de IA em grandes laboratórios de IA tais como DeepMind e OpenAI, e projetar agendas de pesquisa para o alinhamento de IA, em obras como Concrete Problems in AI Safety.
Acabar com as fazendas industriais
Porque isso é importante?
Quase 10 bilhões de animais nos EUA vivem e morrem em fazendas-fábricas a cada ano [16]– normalmente sem conseguirem se movimentar durante toda sua vida, ou são castrados sem anestesia.
Muitas pessoas concordam que não devemos fazer os animais sofrerem desnecessariamente, entretanto a maior parte da nossa atenção é destinada a abrigos de animais de estimação. Ainda assim, nos Estados Unidos, cerca de 1.400 vezes mais animais passam por fazendas-fábricas do que estão em abrigos para animais de estimação[17].
Por outro lado, os abrigos de animais de estimação recebem cerca de US$5 bilhões por ano nos Estados Unidos, se comparado a apenas US$97 milhões para defesa para acabar com fazendas-fábricas.[18]
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma estratégia é o ativismo. A Open Wing Alliance, que recebe um financiamento significativo de financiadores inspirados pelo altruísmo eficaz, desenvolveu uma campanha para incentivar grandes empresas a se comprometerem em parar de comprar ovos de galinhas engaioladas. Até o momento, conseguiram mais de 2.200 compromissos, o que significa que mais de 100 milhões de aves foram poupadas das gaiolas[19].
Outra estratégia é criar proteínas alternativas que, se forem mais baratas e saborosas do que a carne de fazendas-fábricas, podem fazer essa demanda desaparecer. O Good Food Institute está trabalhando para dar um pontapé inicial nessa indústria, ajudando a criar empresas como a Dao Foods na China e a Good Catch nos EUA, encorajando grandes negócios a entrar nessa indústria (incluindo a JBS, a maior empresa de carne do mundo) e garantindo dezenas de milhões de dólares de investimento governamental[20].
A Open Philanthropy foi uma investidora pioneira da Impossible Foods, que criou o Hambúrguer Impossível – um hamburger totalmente vegano que tem sabor de carne e atualmente é vendido no Burger King.
Aperfeiçoar a tomada de decisão
Porque isso é importante?
As pessoas que querem fazer o bem em geral preferem enfrentar esse problema diretamente, pois é mais motivador ver os efeitos tangíveis das suas ações. Mas o que realmente importa é que o mundo se torne um lugar melhor, não que se faça com as próprias mãos.
Então, as pessoas que normalmente aplicam o altruísmo eficaz tentam ajudar indiretamente, dando mais poder a outras pessoas. Um exemplo disso é a melhoria da tomada de decisão. Ou seja: se os atores-chave — como políticos, líderes de empresas privadas e do terceiro setor ou doadores para organismos de financiamento — tomassem melhores decisões, a sociedade poderia estar em uma situação melhor para lidar com uma grande quantidade de problemas globais futuros, seja lá onde eles estiverem.
Assim, se pudermos encontrar maneiras novas e negligenciadas de melhorar a tomada de decisão de atores importantes, isso pode ser uma forma de provocar um grande impacto. E parece que existem algumas soluções promissoras que poderiam alcançar isso.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Muitos problemas globais são exacerbados por falta de informações confiáveis. A Metaculus é uma organização sem fins lucrativos que identifica assuntos importantes, tais como a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia, faz estimativas baseadas em centenas de previsões e as pesa conforme sua previsão anterior. Em meados de janeiro de 2022, a Metaculus apontou que havia uma probabilidade de 47% da Rússia invadir a Ucrânia, que passou para 80% pouco antes da invasão no dia 24 de fevereiro[21]– época em que muitos eruditos, jornalistas e especialistas diziam que isso não ocorreria de forma alguma.
O Global Priorities Institute na Universidade de Oxford faz pesquisa fundamentada cruzando filosofia e economia para conhecer como os tomadores de decisões chave podem identificar os problemas mais prementes do mundo. Ele ajudou a criar uma nova área acadêmica de pesquisa de prioridades globais, criou uma agenda de pesquisa, publicou dezenas de artigos, e ajudou a inspirar pesquisas relevantes em Harvard, na Universidade de Nova York (NYU), na Universidade do Texas em Austin, em Yale, Princeton e em outras universidades.
Que valores unem o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz não é definido pelos projetos acima, e o seu foco pode facilmente mudar. O que define o altruísmo eficaz são os valores que sustentam sua busca pela melhor maneira de ajudar os outros:
Priorização: Nossa intuição a respeito de fazer o bem normalmente não leva em consideração a escala dos resultados — ajudar 100 pessoas em geral nos deixa tão satisfeitos quanto ajudar 1000. Mas, como algumas formas de fazer o bem também alcançam muito mais do que outras formas, é essencial tentar usar os números para mostrar como ações diferentes podem ajudar. O objetivo é encontrar as melhores maneiras de ajudar, e não trabalhar sem fazer qualquer diferença.
Altruísmo imparcial: acreditamos que todas as pessoas têm o mesmo valor. É claro que é justo ter uma preocupação especial pela própria família, amigos e a própria vida. Mas, ao tentar fazer o maior bem possível, buscamos dar um peso igual aos interesses de todas as pessoas, independente de onde ou quando elas vivam. Isso significa focar nos grupos que são mais negligenciados, o que normalmente significa focar naqueles que não têm tanto poder para proteger seus próprios interesses.
Busca da verdade: em vez de começar pelo compromisso com uma causa, comunidade ou abordagem, é importante pensar em diversas maneiras diferentes de ajudar, e tentar encontrar as melhores. Isso significa investir um tempo substancial em fazer deliberações e reflexões sobre as próprias crenças, estar sempre aberto e curioso por novas evidências e argumentos e estar pronto para mudar os pontos de vista muito radicalmente.
Espírito colaborativo: é possível alcançar mais trabalhando juntos e para fazer isso de maneira eficaz é necessário atingir altos padrões de honestidade, amizade e perspectiva de comunidade. O altruísmo eficaz não se foca no raciocínio de que os “fins justificam os meios” , mas em ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Qualquer pessoa que tenha esses valores e esteja tentando encontrar formas melhores de ajudar os outros está participando do altruísmo eficaz. Isso é verdadeiro não importa quanto tempo ou dinheiro ela queira doar, ou em que assuntos ela escolha focar.
O altruísmo eficaz pode ser comparado ao método científico. A ciência é o uso de evidências e razão em busca da verdade — mesmo se os resultados sejam pouco intuitivos ou mesmo contrários ao que diz a tradição. A ciência é o uso de evidências e razão em busca da verdade — mesmo se os resultados sejam pouco intuitivos ou contrários ao que diz a tradição.
O método científico baseia-se em ideias simples — isto é, que se deve testar nossas crenças — mas leva a uma imagem radicalmente diferente do mundo (p. ex.: a mecânica quântica). Da mesma forma, o altruísmo eficaz baseia-se em ideias simples — de que devemos tratar as pessoas igualmente e que é melhor ajudar mais pessoas do que menos — mas também leva a uma imagem não convencional e sempre em evolução do fazer o bem.
Como você pode tomar ações práticas?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz em geral tentam aplicar as ideias em suas vidas da seguinte forma:
Escolhendo carreiras que ajudem a enfrentar problemas prementes, tais como os conselhos da 80.000 Horas (N.R.: trata-se da tradução feita pela comunidade do Altruísmo Eficaz Brasil do Projeto original, a 80.000 hours), ou encontrando maneiras de usar suas habilidades atuais para contribuir com esses problemas.
Doando para instituições de caridade cuidadosamente escolhidas, usando as pesquisas de GiveWell ou da Giving What We Can.
É possível aplicar o altruísmo eficaz independente do quanto se queira focar em fazer o bem — o importante é que, independente do quanto você queira doar, seus esforços sejam direcionados para os quatro valores acima, e que você tente tornar seus esforços o mais eficazes possível.
Normalmente, isso envolve tentar identificar grandes problemas globais negligenciados, as soluções mais eficazes para esses problemas, e maneiras como se pode contribuir para essas soluções, usando o que você queira doar. Ao fazer isso, é possível que qualquer pessoa faça muito mais para ajudar os outros.
Perguntas Mais Frequentes
Quem criou este website e por quê?
Este website foi criado pelo Centre for Effective Altruism (CEA), uma instituição de caridade dedicada a construir e fomentar a comunidade de altruísmo eficaz. O CEA criou este website para ajudar a explicar e difundir as ideias do altruísmo eficaz.
O CEA foi fundado pela Open Philanthropy, o Future Fund e doadores individuais.
Qual é a definição de altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar a melhor maneira de ajudar aos demais e como colocar isso em prática.
Podemos dividir o projeto do altruísmo eficaz em uma área de pesquisa que busca identificar as maneiras mais eficazes de ajudar outras pessoas e uma comunidade prática de pessoas que buscam usar os resultados desta pesquisa para tornar o mundo melhor.
Uma pessoa pratica o altruísmo eficaz se participa de um desses projetos, isto é, se tenta encontrar maneiras mais eficazes de ajudar, ou destina parte dos seus recursos às formas mais eficazes de ajudar descobertas até o momento.
O altruísmo eficaz, definido dessa forma, não estabelece o quanto uma pessoa deve doar. O importante é que ela use o tempo e o dinheiro que queira doar da maneira mais eficaz possível.
Veja a seção Perguntas Mais Frequentes para entender o que significa “ajudar as pessoas” ou “fazer o bem”.
Para obter uma definição mais precisa de altruísmo eficaz, leia o artigo A Definição de Altruísmo Eficaz, do filósofo e co-fundador do Altruísmo Eficaz, William MacAskill.
O que se entende por “fazer o bem” ou “ajudar os outros” no altruísmo eficaz?
O significado de “fazer o bem” é tema de grande debate e pesquisa dentro da comunidade, e essa comunidade é feita de pessoas que têm pontos de vista morais muito diferentes.
Dito isso, normalmente, no altruísmo eficaz, “fazer o bem” é entendido como permitir que mais pessoas tenham vidas que sejam saudáveis, felizes, plenas; de acordo com seus desejos; e livres de sofrimento evitável — ter uma vida com um bem-estar maior — e preenchê-la sem sacrificar nada de importância moral similar.
O altruísmo eficaz tem esse foco porque aumentar o bem-estar é um objetivo que as pessoas não devem deixar para trás. Isso não quer dizer que o importante seja apenas aumentar o bem-estar e, na prática, as pessoas no altruísmo eficaz têm muitos outros valores.
Uma vez que o que importa moralmente é muito incerto, as pessoas envolvidas no altruísmo eficaz buscam respeitar outros valores amplamente diferentes na sua busca por fazer o bem. O altruísmo eficaz não se refere ao raciocínio de que os “fins justificam os meios” , mas a ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Leia mais sobre como a 80.000 Horas – uma organização sem fins lucrativos que faz parte da comunidade – define “fazer o bem”, clicando aqui.
Para obter uma definição mais precisa sobre fazer o bem no altruísmo eficaz, veja A Definição de Altruísmo Eficaz, do filósofo e co-fundador do Altruísmo Eficaz, William MacAskill.
Como começou o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz foi formado quando diversas comunidades em todo o mundo se reuniram, incluindo a Giving What We Can e o Future of Humanity Institute em Oxford, a comunidade racionalidade na Bay Area e a GiveWell (na época em Nova York).
O termo “altruísmo eficaz” foi cunhado em 2011, em Oxford, como parte do nome do Centro para Altruísmo Eficaz (que hospeda este site), mas pegou como um termo para descrever um movimento mais amplo.
Algumas das inspirações intelectuais do altruísmo eficaz são medicina e política baseadas em evidências, utilitarismo aplicado e pesquisas sobre heurística e preconceito sobre o raciocínio humano.
Que recursos inspiraram as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz no passado?
Alguns exemplos de recursos que têm inspirado as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz (mas não necessariamente representam sua forma atual) incluem:
Algumas formas de fazer o bem conseguem alcançar muito mais do que outras (com a mesma quantidade de recursos).
Essas diferenças não são amplamente conhecidas ou aplicadas.
Isso significa que, ao procurar por maneiras mais eficazes de fazer o bem, torná-las amplamente conhecidas, e aplicá-las, as pessoas interessadas em fazer o bem podem fazer muito mais para enfrentar os problemas mais prementes do mundo.
Além do mais, isso pode ser conseguido mesmo se a quantidade de recursos destinados a fazer o bem não aumentar.
O que as pessoas interessadas no altruísmo eficaz fazem na prática?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz trabalham em uma grande variedade de assuntos e projetos.
Por exemplo, Benjamin Todd estimou a seguinte distribuição de financiamento entre os assuntos em 2019:
Em termos de como elas contribuem, muitas escolhem empregos com o objetivo de enfrentar problemas prementes. Esses empregos abrangem todos os setores, incluindo instituições sem fins lucrativos e com fins lucrativos que procuram enfrentar esses problemas, pesquisa acadêmica ou posições no governo ou na política.
Mais de 5.000 pessoas se comprometeram em doar, por meio do Giving What We Can, 10% ou mais das suas rendas para organizações que acreditam serem mais eficazes, e mais de 100.000 pessoas fizeram pelo menos uma doação com base nas recomendações da GiveWell.
Um mal-entendido comum é que o altruísmo eficaz se refere apenas a doação de dinheiro para organizações de saúde no mundo todo ou a “ganhar para doar”. Mas menos de metade das doações são destinadas a instituições de caridade mundiais na área de saúde, apenas uma minoria dos membros da comunidade ganham para doar, e o altruísmo eficaz se interessa muito mais a como usar seu tempo de forma eficaz do que ao seu dinheiro. Na verdade, a organização 80.000 Horas defende que, para muitas pessoas, suas decisões de carreira são mais importantes do que as decisões sobre onde doar. Leia mais em “Mal-entendidos sobre o altruísmo eficaz”.
Veja, na próxima pergunta, exemplos de pessoas que praticam o altruísmo eficaz.
Quais são os principais exemplos de pessoas envolvidas com o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz diz que devo ver o ‘fazer o bem’ como meu único foco na vida?
Não, o quanto você deseja focar em fazer o bem em relação aos seus outros objetivos é uma decisão pessoal.
O altruísmo eficaz refere-se à forma de usar os recursos que você quer destinar a fazer o bem da forma mais eficaz possível, quando seu foco for ajudar os outros.
O altruísmo eficaz normalmente inspira as pessoas a tornarem o fazer o bem um foco maior, porque percebem que é possível fazer mais bem do que elas pensavam.
Mas, para a maioria das pessoas na comunidade, fazer o bem é apenas um objetivo importante entre diversos objetivos morais e pessoais. Da mesma forma, enquanto alguns na comunidade doam 50% ou mais das suas rendas para a caridade, outros doam apenas 1%.
Sua decisão se baseará em parte nos seus pontos de vista morais e na sua situação de vida. Muitos simplesmente não podem ter como foco principal em suas vidas ajudar os outros.
Mesmo se você quiser tornar o fazer o bem um foco principal da sua vida, fazer disso o seu único foco é contraprodutivo. Primeiramente porque o que importa moralmente é altamente incerto, e focar em um objetivo moral mal definido excluindo todos os outros pode, na verdade, fazer um mal. Segundo, ter um único objetivo não é bom para o psicológico da maioria das pessoas, o que provocar burnout, reduzindo seu impacto no longo prazo.
Porque as pessoas no altruísmo eficaz não focam em assuntos mais convencionais como X ou Y?
Uma consideração chave para o assunto a ser focalizado é como a sociedade aloca recursos atualmente. Se um problema importante já é amplamente reconhecido, então é provável que muitas pessoas já estejam tentando resolvê-lo. Isso significa que será mais difícil para outras pessoas que decidam trabalhar essa mesma questão e esperem que ela tenha um impacto muito grande. Tudo o mais constante, é possível fazer um bem muito maior em uma área que não esteja obtendo a atenção que merece. Uma maneira de pensar sobre isso é em termos de um “portfólio mundial” – qual seria a alocação de recursos ideal para todas as causas sociais? E onde já fomos mais longe com aquela alocação ideal?
É por isso que os principais assuntos no altruísmo eficaz podem parecer surpreendentes ou estranhos. As pessoas focam sua atenção em assuntos que estão mais longe de obter a atenção que precisam.
Isso significa que os assuntos nos quais a comunidade foca mudarão ao longo do tempo. Se mais pessoas se interessarem pelo altruísmo eficaz, então os assuntos que são foco hoje não serão mais negligenciados, e a comunidade expandirá seu alcance ou passará para algo novo.
Se você estiver interessado em aprender como fazer um bem maior, compilamos as listas a seguir de alguns dos melhores recursos sobre o altruísmo eficaz:
Receba uma introdução ao altruísmo eficaz na sua caixa de e-mails (em ingles)
Assine aqui e enviaremos a você alguns e-mails sobre as ideias mais importantes de altruísmo eficaz, além de uma atualização mensal sobre as últimas pesquisas e projetos chave na comunidade.
Quanto menos negligenciado é um assunto, mais terão sido adotadas as melhores oportunidades, e mais difícil será para uma outra pessoa exercer um impacto. Na verdade, temos bons motivos para acreditar que os retornos sobre o investimento em um assunto sejam basicamente logarítmicos. Os retornos logarítmicos implicam que se 10 vezes mais recursos tiverem sido investidos em uma causa se comparada a outra, então recursos extras atingirão cerca de 10% mais progresso. Se os dois assuntos são igualmente importantes, e uma outra pessoa trabalha no mais negligenciado, teremos dez vezes mais impacto.
De 2010 a 2019, o Financiamento Federal Norte-Americano para Segurança da Saúde recebeu cerca de US$141 bilhões. Avaliamos que 55% disso foi gasto no que poderia evitar futuras pandemias. Por exemplo, 4% foi gasto enfrentando a contínua epidemia de ebola, que forneceu infraestrutura para outras possíveis pandemias. Entretanto, 17% foi gasto em ameaças de radiação química e nuclear de uma forma improvável de afetar a disseminação de pandemias futuras. 141 bilhões * 0,55 = 79 bilhões Ao longo de um período de dez anos, temos US$8 bilhões por ano. Federal funding for health security in FY2019 Watson, Crystal et al., Health security 16.5 (2018): páginas 281-303. Link arquivado, acesso em: 5 mar. 2020. A Open Philanthropy também identificou outras fundações e filantropos que trabalhavam nesse assunto antes da pandemia da Covid, os quais acreditamos totalizar US$100 milhões em financiamento. Crawford, diretor do projeto Costs of War, calcula que os Estados Unidos gastaram US$5,8 trilhões em contraterrorismo em 2001-2022. 5,8 trilhões / 20 anos = US$290 bilhões por ano. United States budgetary costs of Post-9/11 wars Crawford, Neta C., Watson Institute for International & Public Affairs, Brown University, 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
As mortes por terrorismo entre 1970 e 2020 somaram aproximadamente 456.000. Dados obtidos da Global Terrorism Database 2020, acesso em: 11 ago. 2022. Observe que Our World in Data relata que “O Global Terrorism Database é a base de dados mais abrangente atualmente disponível sobre ataques terroristas e que os dados recentes estão completos. Entretanto, com base nas nossas análises, entendemos que esses dados de longo prazo estejam incompletos (exceto para os Estados Unidos e Europa). Portanto, não recomendamos este conjunto de dados para inferir as tendências no longo prazo sobre a prevalência do terrorismo global.” Isso significa que a fonte acima é provavelmente uma contagem aquém das mortes terroristas confirmadas (2010-2020) desde 1970. O número de mortes total seria ainda apenas de 1,2 milhões; muito menor do que o número de mortes pela pandemia. Deaths from COVID-19: O The Economist estimou um excedente acumulado de mortes por COVID-19 em 21,47 milhões até junho de 2022, e esse número ainda está aumentando. Pode-se ver este dado e seu modelo no Our World in Data (página arquivada, recuperada em 28 jul. 2022). Entendemos essa como a melhor estimativa atual do total de mortes por COVID-19. O número de mortes confirmadas é mais baixo, cerca de 6 milhões, mas ultrapassa o número de mortes provocadas indiretamente ou que não foram relatadas. A metodologia do The Economist compara o número excedente de mortes com a média periódica, para estimar no total quantas outras pessoas morreram e ajustar as subnotificações. As mortes provocadas tanto pela pandemia quanto por terrorismo têm uma cauda pesada, portanto, as taxas de morte anteriores normalmente subestimarão a magnitude do risco. Por exemplo, é possível que os terroristas lancem uma arma nuclear em uma grande cidade, o que poderia matar mais de 1 milhão de pessoas. Isso não aconteceu nos últimos cinquenta anos, mas teria sido a principal causa da taxa de mortalidade se tivesse ocorrido. Da mesma forma, poderia ter ocorrido uma pandemia muito pior do que a COVID-19 ou a HIV/AIDS nos últimos 50 anos. A questão chave então é se o registro histórico é uma subestimação do risco de terrorismo ou de pandemia (ou seja, se as mortes por terrorismo têm uma cauda mais pesada do que as mortes por pandemia). Parece plausível que o pior cenário da pandemia seja pior do que o do terrorismo. Não há nada que possa excluir o surgimento de uma pandemia mais infecciosa do que a COVID-19, mas com uma taxa de fatalidade de 10-50%, ou pior. E parece ter ocorrido outros quase-acidentes no registro histórico. Então, o problema de eventos com falta de cauda na amostra pode ter sido pior para a pandemia do que para o terrorismo. Na verdade, a maneira mais plausível para o terrorismo matar mais de 1 milhão de pessoas é, provavelmente, por meio de uma pandemia. Dado que o terrorismo recebe aprox. 100 vezes mais financiamento do que a prevenção a pandemias, enquanto parece que, historicamente, a pandemia tenha provocado 10 a 100 vezes mais mortes, as correções deveriam ser bem mais pesadas em favor do terrorismo para que a alocação de recursos atual pareça mais equilibrada. A análise acima foi feita em termos de número de mortes, pois essa é uma métrica importante, mas relativamente bem mensurável. As mortes tanto por pandemia quanto por terrorismo também produzem custos indiretos importantes, e uma comparação ampla precisaria considerar a escala relativa de cada uma delas.
A Open Philanthropy é uma fundação inspirada no altruísmo eficaz. Inicialmente, fundou-se o Johns Hopkins Centre for Health Security (CHS) em 2016. A esse, seguiram-se diversas outras grandes dotações, inclusive uma de US$16 milhões em 2017 e outra de US$19,5 milhões em 2019.
Antes da COVID-19, o número de pessoas que viviam com US$1,90 ou menos por dia havia sido reduzido para 689 milhões em 2017. Entretanto, estimativas atuais apontam para o primeiro aumento nas taxas de extrema pobreza desde 1998, o que levou a uma estimativa de 731 milhões de pessoas que hoje vivem com menos de US$1,90 por dia. UN SDG 1 – End poverty in all its forms. UN Statistics, 2022. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022. Essas estimativas foram ajustadas considerando que o dinheiro rende mais em países pobres (paridade do poder de compra). São muitas as complicações dessas estimativas, mas fica claro que centenas de milhares de pessoas vivem próximo ao nível de renda de subsistência. Veja “Como se pode conhecer com precisão a distribuição global de renda?” se quiser aprender mais sobre isso.
A linha da pobreza para uma pessoa nos EUA é ter uma renda anual de US$13.590. 13,590 / 365 = US$37,23 por dia. Isso é 20 vezes mais do que a linha da pobreza internacional de US$1,90, que é ajustada conforme a paridade do poder de compra. De acordo com o Censo de 2019, trabalhadores em tempo integral com idades entre 25 e 65 anos e nível universitário ou mais ganham em média US$74.000 por anos. US$74.000 / 365 = US$202,7 por dia US$202 / 1,9 = 107 vezes. De acordo com o SmartAsset, uma pessoa com renda de US$74.000 antes dos impostos que viva em Nova York, recebe cerca de US$53.000 após deduzidos os impostos. De acordo com os cálculos do Giving What We Can, uma renda de US$53.000 após a dedução dos impostos coloca a pessoa entre as 1,3% pessoas com as maiores rendas mundialmente.
O National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido recomenda um gasto de £30.000 por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY) ganho, onde a intervenção é confiável. “Acima de uma taxa incremental custo-eficácia (ICER) mais plausível de £30.000 por QALY ganho, os órgãos de aconselhamento precisam oferecer uma defesa muito mais forte para apoiar uma intervenção como o uso eficaz dos recursos na NHS” Methods for the development of NICE public health guidance. National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido, Set. 2012. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022. Na saúde global, é comum ouvir dizer que salvar uma vida equivale a 30 QALYs. Fonte: World Bank (Box 1.1) Isso leva a um custo para salvar uma vida de 30 x £30.000 = £900.000 = $1,1 milhão. Nos EUA, diferentes agências globais estimam “o valor da vida”, e usam esses números para priorizar projetos de investimentos. Em 2020, a Federal Emergency Management Agency estimou o valor de uma vida em US$7,5 millhões. Esta estimativa tem flutuado com base no contexto. Por exemplo, em 2014, o US Department of Transport estimou o valor da vida entre US$5,2 milhões e US$13,0 milhões.
A estimativa da GiveWell” do custo para salvar uma vida tem variado ao longo do tempo (dependendo das suas pesquisas, e das oportunidades disponíveis), mas tem ficado entre US$2.500 e US$7.500. Em 2021, a GiveWell estimou que US$5.500 gastos em distribuição de mosquiteiros tratados com inseticida salvarão uma vida em média. Você pode ver as estimativas mais atualizadas na análise custo-eficaz total: How We Produce Impact Estimates GiveWell, July 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
“Mais de 110.000 doadores confiaram na GiveWell para investir suas doações. Juntos, eles doaram mais de US$1 bilhão às organizações que recomendamos. Essas doações salvarão mais de 150.000 vidas e fornecerão auxílio pecuniário de mais de US$175 milhões para os pobres no mundo.” About GiveWell, GiveWell, Jul. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
“Quando a Wave foi lançada no Senegal, nossa média de transferência tinha um custo de 3 a 5 vezes mais se fosse feita por meio dos maiores sistemas de transferência monetária da época. Multiplicado por nossos milhões de usuários ativos ao mês, isso alcança uma economia de mais de US$200 milhões por ano, … cerca de 1% do PIB do Senegal”. Working at Wave is an extremely effective way to improve the world. Ben Kuhn, o jul. 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
Conversa: “Nosso melhor modelo integral Meena atingiu a … pontuação SSA (Média de Sensibilidade e Especificidade) de 72%… nossa pontuação SSA de 72% não está longe dos 86% alcançados por pessoas comuns.” Towards a Conversational Agent that Can Chat About…Anything. Adiwardana et. al., Google, 28 jan. 2020. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022. Matemática: Os gráficos no artigo anexo mostram que as respostas corretas do Minerva do Google estão acima de 50% dos “problemas de competições de matemática no ensino médio”. Outros modelos estado-da-arte alcançavam uma precisão de menos de 10%.
Minerva: Solving Quantitative Reasoning Problems with Language Models. Dyer et. al, Google, 30 Jjun. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022. Piadas: O AI PaLM do Google pode oferecer explicações sobre piadas nunca contadas antes, inclusive de piadas que não estejam disponíveis na internet. Por exemplo: “Piada: Você viu que o Google acaba de contratar uma baleia falante para a equipe de TPU? Ela mostra a eles como se comunicar entre dois pods diferentes! Explicação: TPUs são tipos de chips de computador que o Google usa para aprendizagem profunda. Um pod é um grupo de TPUs. Um pod também é um grupo de baleias. A piada é que as baleias podem se comunicar entre dois grupos de baleias, mas o falante está interpretando que a baleia pode se comunicar entre dois grupos de TPUs.” Pathways Language Model (PaLM): Scaling to 540 Billion Parameters for Breakthrough Performance. Narang et. al., Google, 4 abril 2022. Link arquivado Imagens: Imagens que exemplificam a OpenAI’s Dall-E 2 podem ser vistas aqui. Codificação: A Seção 3.1 no artigo de pesquisa de Equipe de Vendas em‘A Conversational Paradigm for Program Synthesis‘ sobre CodeGen, suas ferramenta de IA transformando instruções humanas em códigos, descreve que o CodeGen alcança 75% da pontuação do HumanEval. Isso significa que ele resolve 75% dos desafios de programação descritos com linguagem humana comum no conjunto HumanEval.
É difícil estimar o número de pesquisadores focados em determinado assunto pois é difícil definir, pra início de conversa, o trabalho de muitos pesquisadores em múltiplos assuntos, e é difícil conhecer as limitações para ser um pesquisador”. Assim, esses números devem ser entendidos como uma estimativa para um fator de três ou mais, e podem estar fora de uma ordem de magnitude, dependendo de algumas interpretações da questão. Em 2020, 87.000 autores publicaram pesquisas de IA no arXiv. O Relatório Mundial de Talentos de IA 2020 sobre as estimativas de Elementos de IA tem ainda mais pessoas do que o trabalho de desenvolvimento global em IA, contando com 155.000 pessoas registradas nas mídias sociais como trabalhadores em pesquisa ou engenharia de IA. Entretanto, entendemos que algumas pessoas que trabalhem em engenharia de IA não estejam alocadas na engenharia de novos avanços em IA. Pegamos a menor estimativa de 87.000 e a reduzimos à metade, chegando a uma estimativa de 40.000. Em 2021, a Gavin Leech estimou que 270 a 830 pessoas FTE trabalhavam em Segurança de IA. Entretanto, o topo deste intervalo de estimativa baseia-se no que pensamos ser uma noção muito ampla do que constitui a pesquisa em alinhamento de IA, e uma grande parte da soma foi direcionada para agregar tempo de muitos pesquisadores que destinam uma pequena fração do seu tempo à pesquisa de segurança, enquanto nosso objetivo é quantificar o número de pesquisadores focados em segurança de IA. A AI Watch tentou contar o número de pesquisadores em IA, e encontrou 160 pesquisadores notórios em Segurança de IA. Isso inclui muitas pessoas que não publicaram sobre segurança de IA em mais de uma no, embora para os 87.000 estimados acima, todos publicaram no ano passado. Por outro lado, os limites para ser um pesquisador notável podem ser muito mais altos do que publicar na arXiv. Nossa estimativa final é que 300 pesquisadores estejam focados em segurança de IA.
Em 2018, 9,56 bilhões de animais de fazenda foram abatidos para produção de carne nos EUA. Esse número já deve ter aumentado desde então. Isso inclui 9,16 bilhões de galinhas, 237 milhões de perus, 125 milhões de porcos, 34 milhões de gado e 2 milhões de ovelhas. Fonte: visualizada em Nosso Mundo em Dados, usando dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Em 2021, aproximadamente 6,5 milhões de animais passaram por abrigos de animais nos EUA. Em 2011, este número era de 7,2 milhões. Assumindo-se que houve uma redução constante, isso significa que, em 2018, aproximadamente 6,7 milhões de animais passaram por abrigos. 9,56 bilhões/ 6,7 milhões = 1427 vezes o número de animais em pecuária industrial. Estatísticas de Animais de estimação. American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, 2021. Link arquivado, acesso em: agosto de 2021.
Gastos com abrigos de animais: Andrew Rowan calculou em US$5 bilhões os financiamentos nas 3000 principais organizações de abrigo de animais dos EUA em 2018, publicado neste artigo “Cat Demographics & Impact on Wildlife in the USA, the UK, Australia and New Zealand: Facts and Values” Rowan et. al. (2020), Journal of Applied Animal Ethics Research, pages 7–37. Andrew Rowan confirmou os dados por trás desses cálculos em correspondência conosco. Financiamento para defesa de animais de fazenda: Pesquisas da Open Philanthropy publicadas aqui mostram os seguintes financiamentos para grupos de defensa de animais e fazenda em 2018: – US$32,3 milhões para grupos Formalizados no EUA (PETA, PCRM, HSUS, ALDF, ASPCA) – US$32,6 milhões para grupos novos e grandes nos EUA (CIWF, WAP, RSPCA, HSI) – US$32,2 milhões para todos os outros grupos nos EUA 32,3 + 32,6 + 32,2 = US$97,1 milhões
106,5 milhões de galinhas estão atualmente em locais livres de gaiolas apenas nos EUA, desde maio de 2022, conforme relatado pelo Panorama de Mercados de Ovos da USDA, comparado com 17 milhões em 2016. Acreditamos que outras 100 milhões já estão livres de gaiolas na Europa como resultado do trabalho da Open Wing Alliance, embora esse número seja mais difícil de atribuir aos europeus. Além disso, defensores garantiram compromissos corporativos que, se implantados, devem alcançar mais de 500 milhões de galinhas em breve.
Após se engajar com a GFI, o governo dos EUA anunciou uma concessão de US$10 milhões para a criação de um centro de excelência em agricultura celular na Universidade Tufts. A National Food Strategy, entidade independente do Reino Unido, recomendou o investimento de £125 milhões em pesquisa e inovação sobre proteínas alternativas. Fonte: GFI Year in Review 2021 (página 3)
Introdução ao Altruísmo Eficaz
This is an Portuguese translation of Introduction to Effective Altruism
Link to this translation: https://80000horas.com.br/introducao-ao-altruismo-eficaz/
Link to the EA Handbook translation: https://80000horas.com.br/manual/
O que é altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar as melhores maneiras de ajudar outras pessoas e as colocar em prática. É, em parte, uma área de pesquisa, que procura identificar os problemas mais prementes do mundo e as melhores soluções para eles e, em parte, uma comunidade prática que procura usar essas descobertas para fazer o bem.
Este projeto é importante porque, se muitas tentativas de fazer o bem falham, outras são extremamente bem sucedidas. Por exemplo, algumas instituições de caridade ajudam 100 ou até 1.000 vezes mais pessoas do que outras, com a mesma quantidade de recursos.
Isso significa que se pensarmos com cuidado sobre as melhores maneiras de ajudar, podemos fazer muito mais para enfrentar os maiores problemas do mundo.
O Altruísmo Eficaz foi elaborado por professores da Universidade Oxford, mas já se espalhou para todo o mundo e está sendo aplicado por dezenas de milhares de pessoas em mais de 70 países.[1]
Pessoas inspiradas pelo Altruísmo Eficaz trabalham em projetos que variam de financiamento da distribuição de 200 milhões de mosquiteiros contra a malária a pesquisa acadêmica sobre o futuro da IA, a campanhas políticas para evitar a próxima pandemia.
Elas não estão unidas por uma solução particular para os problemas do mundo, mas por uma forma de pensar. Veja aqui alguns exemplos do que fizeram até agora, bem como os valores que as unem:
Quais são alguns exemplos do altruísmo eficaz na prática?
Evitar a próxima pandemia
Porque isso é importante?
As pessoas no altruísmo eficaz tipicamente tentam identificar causas de grande escala, tratáveis e que são injustamente negligenciadas[2], a fim de encontrar aquelas nos quais uma pessoa a mais possa exercer o maior impacto. Um assunto que parece atender a esses critérios é a prevenção de pandemias.
Os pesquisadores do altruísmo eficaz defendem, desde 2014, que, dado o histórico de quase ocorrências, havia uma boa chance de que uma grande pandemia pudesse ocorrer ainda no nosso tempo.
Mas, preparar-se para a próxima pandemia era, e ainda é, muito subfinanciado em relação a outras questões globais. Por exemplo, nos Estados Unidos essa iniciativa recebeu cerca de US$8 bilhões de investimento por ano, comparado a cerca de US$280 bilhões por ano gasto em contraterrorismo[3].
É claro que evitar ataques terroristas é importante. Mas a escala desse problema parece ser menor. Por exemplo, apenas focando no número de mortes, nos últimos 50 anos, cerca de 500.000 pessoas foram mortas pelo terrorismo. Mas mais de 21 milhões de pessoas morreram apenas de COVID-19[4]– e 40 milhões morreram de HIV/AIDS[5].
E uma futura pandemia poderia ser muito pior do que a COVID-19: não há como excluir o risco de uma doença futura mais infecciosa que a variante Omicron e tão mortal quanto a varíola.
No altruísmo eficaz, quando se identifica um problema desprezado, a comunidade procura as soluções negligenciadas para esses problemas, que poderiam fazer uma grande diferença, o que nos leva a…
Alguns exemplos do que tem sido feito
Em 2016, a Open Philanthropy – uma fundação inspirada no altruísmo eficaz – se tornou o maior financiador do Johns Hopkins Center for Health Security, que é um dos grupos que faz pesquisas para identificar as melhores respostas políticas para pandemias, e foi um grupo importante na resposta à COVID-19[6].
Quando surgiu a COVID-19, membros da comunidade fundaram a 1DaySooner, uma empresa sem fins lucrativos para defender o Desafio dos Testes em Seres Humanos (mais conhecidos no Brasil como “Estudos de infecção humana controlada – EIHC”). Neste tipo de teste de vacina, voluntários saudáveis são deliberadamente infectados com a doença, o que permite uma testagem quase instantânea da vacina. Como uma das únicas defensoras dessa intervenção, a 1DaySooner registrou mais de 30.000 voluntários[7], e desempenhou um papel importante para iniciar o primeiro Desafio dos Testes em Seres Humanos para a Covid-19 no mundo. Esse modelo poderá ser replicado quando enfrentarmos a próxima pandemia.
Membros da comunidade de altruísmo eficaz ajudaram a criar o Programa Apollo para Defesa Biológica, uma proposta de muitos milhões de dólares destinada a evitar a próxima pandemia.
Fornecer provisões médicas básicas em países pobres
Porque isso é importante?
É comum dizer que a caridade começa em casa, mas no altruísmo eficaz, a caridade começa onde mais podemos ajudar. E isso normalmente significa focar nas pessoas que são mais negligenciadas pelo sistema atual – em geral, aquelas que estão mais distantes.
Principalmente nos países mais pobres, mais de 700 milhões de pessoas vivem com menos de US$1,90 por dia[8].
Por outro lado, um norte-americano perto da linha da pobreza vive com 20 vezes mais do que isso, e o norte americano com ensino médio em geral vive com 107 vezes mais do que isso. Isso os coloca entre os 1,3% de pessoas com maior renda, na média global[9]. (Esses valores foram ajustados considerando que o dinheiro rende mais em países mais pobres).
A desigualdade global é extremamente alta. Por isso, a transferência de recursos para as pessoas muito mais pobres no mundo pode fazer um bem enorme. Em países mais ricos como os Estados Unidos e o Reino Unido, em geral, os governos estão mais dispostos a gastar mais de US$1 milhão para salvar uma vida[10]. Isso é muito válido, mas nos países mais pobres do mundo, o custo para salvar uma vida é muito mais baixo.
A GiveWell é uma organização que faz pesquisas aprofundadas para encontrar os projetos de saúde e desenvolvimento mais baseados em evidências e custo-benefício. Ela descobriu que, embora muitas intervenções de ajuda não funcionem, outras, como o fornecimento de mosquiteiros tratados com inseticidas, podem salvar a vida de uma criança gastando, em média, US$5.500. Isso é 180 vezes menos do que o habitual[11].
Essas intervenções médicas básicas são tão baratas e eficazes que mesmo os mais maiores céticos da assistência concordam que elas são válidas.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Mais de 110.000 doadores individuais têm usado as pesquisas da GiveWell’s para constribuir com mais de US$1 bilhão de dólares com as instituições de caridade recomendadas, apoiando organizações como a Against Malaria Foundation (Fundação Contra a Malária), que já distribuiu mais de 200 milhões de mosquiteiros tratados com inseticida. De forma coletiva, estima-se que esses esforços tenham salvado mais de 159.000 vidas[12].
Além da caridade, é possível ajudar as pessoas mais pobres do mundo por meio dos negócios. A Wave é uma empresa de tecnologia fundada por membros da comunidade de altruísmo eficaz, que permite que as pessoas transfiram dinheiro para diversos países africanos de maneira mais rápida e muitas vezes mais barata do que por meio dos serviços comumente usados. É bastante útil para migrantes que enviam dinheiro para suas famílias nos seus países de origem, e tem sido usada por mais de 800.000 pessoas em países como Quênia, Uganda e Senegal. Apenas no Senegal, a Wave economizou centenas de milhares de dólares em taxas de transferência – cerca de 1% do PIB do país[13].
Ajudando a criar a área de pesquisa alinhada a IA
Porque isso é importante?
A inteligência artificial está progredindo rapidamente. Os principais modelos de IA estão duplicando sua capacidade de computação a cada três ou quatro meses. Atualmente eles podem participar de uma conversa limitada, resolver problemas matemáticos a nível universitário, explicar piadas, gerar imagens extremamente realistas para textos e fazer uma codificação básica[14]. Nada disso era possível dez anos atrás.
O objetivo maior dos principais laboratórios de IA é desenvolver uma IA que seja tão boa ou melhor do que os seres humanos em todas as tarefas. É extremamente difícil prever o futuro da tecnologia, mas vários debates e pesquisas de especialistas sugerem que é mais provável que essa proeza seja alcançada neste século, do que não seja alcançada. E, de acordo com modelos econômicos padrão, quando a IA comum puder atingir o nível de desempenho dos humanos, o progresso tecnológico pode se acelerar enormemente.
O resultado disso seria uma transformação enorme, talvez de significado igual ou maior do que a revolução industrial nos anos 1800. Se tratada adequadamente, essa transformação pode trazer abundância e prosperidade para todas as pessoas. Se tratada de maneira insatisfatória, pode resultar em concentração extrema de poder nas mãos de uma elite minúscula.
No pior caso, podemos perder controle dos próprios sistemas de IA. Incapazes de governar seres com uma capacidade muito maior do que a nossa, nos veríamos com um controle muito pequeno do nosso futuro, como o controle que os chimpanzés têm sobre os seus.
Isso significa que esse assunto poderia não apenas ter um impacto enorme nas gerações presentes, mas também nas gerações futuras. Isso torna especialmente urgente, a partir da perspectiva do longotermismo (N.R.: também chamado de longoprazismo – definição em português aqui) uma escola de pensamento que sustenta que melhorar o futuro a longo prazo é uma prioridade moral fundamental de nosso tempo.
À maneira como podemos garantir que os sistemas de IA continuem a propagar os valores humanos, mesmo que se tornem iguais (ou superiores) aos humanos na sua capacidades denomina-se problema de Alinhamento de IA, e resolvê-lo exige avanços na ciência da informática.
Apesar da sua possível importância histórica, apenas poucas centenas de pesquisadores trabalham neste problema, comparado a dezenas de milhares que trrabalham para tornar os sistemas de IA mais poderosos[15].
Esse assunto pode parecer incomum ou surpreendente mas, uma vez que é possível fazer um bem maior com o trabalho em questões que outros estão negligenciando, deveríamos esperar que áreas mais impactantes trabalhassem no sentido de serem menos convencionais. Também é difícil resumir isso em alguns parágrafos, então se você quiser explorar mais, recomendamos começar por aqui, aqui e aqui.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma prioridade é simplesmente contar a mais pessoas sobre o assunto. O livro Superinteligência de Nick Bostrom – um pesquisador da comunidade do altruísmo eficaz – publicado em 2014, defende a importância do alinhamento da IA, e se tornou um best seller do New York Times.
Outra prioridade é construir uma área de pesquisa focada nesse problema. Por exemplo, o pioneiro da IA, Stuart Russell, e outros inspirados pelo altruísmo eficaz, fundaram o The Center for Human-Compatible AI na Universidade da Califórnia em Berkeley. Esse instituto de pesquisa busca desenvovler um novo paradigma de desenvolvimento de IA “compatível com os humanos”.
Outros centros ajudaram a iniciar equipes focadas no alinhamento de IA em grandes laboratórios de IA tais como DeepMind e OpenAI, e projetar agendas de pesquisa para o alinhamento de IA, em obras como Concrete Problems in AI Safety.
Acabar com as fazendas industriais
Porque isso é importante?
Quase 10 bilhões de animais nos EUA vivem e morrem em fazendas-fábricas a cada ano [16]– normalmente sem conseguirem se movimentar durante toda sua vida, ou são castrados sem anestesia.
Muitas pessoas concordam que não devemos fazer os animais sofrerem desnecessariamente, entretanto a maior parte da nossa atenção é destinada a abrigos de animais de estimação. Ainda assim, nos Estados Unidos, cerca de 1.400 vezes mais animais passam por fazendas-fábricas do que estão em abrigos para animais de estimação[17].
Por outro lado, os abrigos de animais de estimação recebem cerca de US$5 bilhões por ano nos Estados Unidos, se comparado a apenas US$97 milhões para defesa para acabar com fazendas-fábricas.[18]
Alguns exemplos do que tem sido feito
Uma estratégia é o ativismo. A Open Wing Alliance, que recebe um financiamento significativo de financiadores inspirados pelo altruísmo eficaz, desenvolveu uma campanha para incentivar grandes empresas a se comprometerem em parar de comprar ovos de galinhas engaioladas. Até o momento, conseguiram mais de 2.200 compromissos, o que significa que mais de 100 milhões de aves foram poupadas das gaiolas[19].
Outra estratégia é criar proteínas alternativas que, se forem mais baratas e saborosas do que a carne de fazendas-fábricas, podem fazer essa demanda desaparecer. O Good Food Institute está trabalhando para dar um pontapé inicial nessa indústria, ajudando a criar empresas como a Dao Foods na China e a Good Catch nos EUA, encorajando grandes negócios a entrar nessa indústria (incluindo a JBS, a maior empresa de carne do mundo) e garantindo dezenas de milhões de dólares de investimento governamental[20].
A Open Philanthropy foi uma investidora pioneira da Impossible Foods, que criou o Hambúrguer Impossível – um hamburger totalmente vegano que tem sabor de carne e atualmente é vendido no Burger King.
Aperfeiçoar a tomada de decisão
Porque isso é importante?
As pessoas que querem fazer o bem em geral preferem enfrentar esse problema diretamente, pois é mais motivador ver os efeitos tangíveis das suas ações. Mas o que realmente importa é que o mundo se torne um lugar melhor, não que se faça com as próprias mãos.
Então, as pessoas que normalmente aplicam o altruísmo eficaz tentam ajudar indiretamente, dando mais poder a outras pessoas. Um exemplo disso é a melhoria da tomada de decisão. Ou seja: se os atores-chave — como políticos, líderes de empresas privadas e do terceiro setor ou doadores para organismos de financiamento — tomassem melhores decisões, a sociedade poderia estar em uma situação melhor para lidar com uma grande quantidade de problemas globais futuros, seja lá onde eles estiverem.
Assim, se pudermos encontrar maneiras novas e negligenciadas de melhorar a tomada de decisão de atores importantes, isso pode ser uma forma de provocar um grande impacto. E parece que existem algumas soluções promissoras que poderiam alcançar isso.
Alguns exemplos do que tem sido feito
Muitos problemas globais são exacerbados por falta de informações confiáveis. A Metaculus é uma organização sem fins lucrativos que identifica assuntos importantes, tais como a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia, faz estimativas baseadas em centenas de previsões e as pesa conforme sua previsão anterior. Em meados de janeiro de 2022, a Metaculus apontou que havia uma probabilidade de 47% da Rússia invadir a Ucrânia, que passou para 80% pouco antes da invasão no dia 24 de fevereiro[21]– época em que muitos eruditos, jornalistas e especialistas diziam que isso não ocorreria de forma alguma.
O Global Priorities Institute na Universidade de Oxford faz pesquisa fundamentada cruzando filosofia e economia para conhecer como os tomadores de decisões chave podem identificar os problemas mais prementes do mundo. Ele ajudou a criar uma nova área acadêmica de pesquisa de prioridades globais, criou uma agenda de pesquisa, publicou dezenas de artigos, e ajudou a inspirar pesquisas relevantes em Harvard, na Universidade de Nova York (NYU), na Universidade do Texas em Austin, em Yale, Princeton e em outras universidades.
Que valores unem o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz não é definido pelos projetos acima, e o seu foco pode facilmente mudar. O que define o altruísmo eficaz são os valores que sustentam sua busca pela melhor maneira de ajudar os outros:
Priorização: Nossa intuição a respeito de fazer o bem normalmente não leva em consideração a escala dos resultados — ajudar 100 pessoas em geral nos deixa tão satisfeitos quanto ajudar 1000. Mas, como algumas formas de fazer o bem também alcançam muito mais do que outras formas, é essencial tentar usar os números para mostrar como ações diferentes podem ajudar. O objetivo é encontrar as melhores maneiras de ajudar, e não trabalhar sem fazer qualquer diferença.
Altruísmo imparcial: acreditamos que todas as pessoas têm o mesmo valor. É claro que é justo ter uma preocupação especial pela própria família, amigos e a própria vida. Mas, ao tentar fazer o maior bem possível, buscamos dar um peso igual aos interesses de todas as pessoas, independente de onde ou quando elas vivam. Isso significa focar nos grupos que são mais negligenciados, o que normalmente significa focar naqueles que não têm tanto poder para proteger seus próprios interesses.
Busca da verdade: em vez de começar pelo compromisso com uma causa, comunidade ou abordagem, é importante pensar em diversas maneiras diferentes de ajudar, e tentar encontrar as melhores. Isso significa investir um tempo substancial em fazer deliberações e reflexões sobre as próprias crenças, estar sempre aberto e curioso por novas evidências e argumentos e estar pronto para mudar os pontos de vista muito radicalmente.
Espírito colaborativo: é possível alcançar mais trabalhando juntos e para fazer isso de maneira eficaz é necessário atingir altos padrões de honestidade, amizade e perspectiva de comunidade. O altruísmo eficaz não se foca no raciocínio de que os “fins justificam os meios” , mas em ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Qualquer pessoa que tenha esses valores e esteja tentando encontrar formas melhores de ajudar os outros está participando do altruísmo eficaz. Isso é verdadeiro não importa quanto tempo ou dinheiro ela queira doar, ou em que assuntos ela escolha focar.
O altruísmo eficaz pode ser comparado ao método científico. A ciência é o uso de evidências e razão em busca da verdade — mesmo se os resultados sejam pouco intuitivos ou mesmo contrários ao que diz a tradição. A ciência é o uso de evidências e razão em busca da verdade — mesmo se os resultados sejam pouco intuitivos ou contrários ao que diz a tradição.
O método científico baseia-se em ideias simples — isto é, que se deve testar nossas crenças — mas leva a uma imagem radicalmente diferente do mundo (p. ex.: a mecânica quântica). Da mesma forma, o altruísmo eficaz baseia-se em ideias simples — de que devemos tratar as pessoas igualmente e que é melhor ajudar mais pessoas do que menos — mas também leva a uma imagem não convencional e sempre em evolução do fazer o bem.
Como você pode tomar ações práticas?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz em geral tentam aplicar as ideias em suas vidas da seguinte forma:
Escolhendo carreiras que ajudem a enfrentar problemas prementes, tais como os conselhos da 80.000 Horas (N.R.: trata-se da tradução feita pela comunidade do Altruísmo Eficaz Brasil do Projeto original, a 80.000 hours), ou encontrando maneiras de usar suas habilidades atuais para contribuir com esses problemas.
Doando para instituições de caridade cuidadosamente escolhidas, usando as pesquisas de GiveWell ou da Giving What We Can.
Criando novas organizações que ajudam a enfrentar problemas prementes.
Ajudando a construir comunidades que enfrentam esses problemas prementes.
Veja a longa lista de maneiras de como agir.
É possível aplicar o altruísmo eficaz independente do quanto se queira focar em fazer o bem — o importante é que, independente do quanto você queira doar, seus esforços sejam direcionados para os quatro valores acima, e que você tente tornar seus esforços o mais eficazes possível.
Normalmente, isso envolve tentar identificar grandes problemas globais negligenciados, as soluções mais eficazes para esses problemas, e maneiras como se pode contribuir para essas soluções, usando o que você queira doar. Ao fazer isso, é possível que qualquer pessoa faça muito mais para ajudar os outros.
Perguntas Mais Frequentes
Quem criou este website e por quê?
Este website foi criado pelo Centre for Effective Altruism (CEA), uma instituição de caridade dedicada a construir e fomentar a comunidade de altruísmo eficaz. O CEA criou este website para ajudar a explicar e difundir as ideias do altruísmo eficaz.
O CEA foi fundado pela Open Philanthropy, o Future Fund e doadores individuais.
Qual é a definição de altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz é um projeto que busca encontrar a melhor maneira de ajudar aos demais e como colocar isso em prática.
Podemos dividir o projeto do altruísmo eficaz em uma área de pesquisa que busca identificar as maneiras mais eficazes de ajudar outras pessoas e uma comunidade prática de pessoas que buscam usar os resultados desta pesquisa para tornar o mundo melhor.
Uma pessoa pratica o altruísmo eficaz se participa de um desses projetos, isto é, se tenta encontrar maneiras mais eficazes de ajudar, ou destina parte dos seus recursos às formas mais eficazes de ajudar descobertas até o momento.
O altruísmo eficaz, definido dessa forma, não estabelece o quanto uma pessoa deve doar. O importante é que ela use o tempo e o dinheiro que queira doar da maneira mais eficaz possível.
Veja a seção Perguntas Mais Frequentes para entender o que significa “ajudar as pessoas” ou “fazer o bem”.
Para obter uma definição mais precisa de altruísmo eficaz, leia o artigo A Definição de Altruísmo Eficaz, do filósofo e co-fundador do Altruísmo Eficaz, William MacAskill.
O que se entende por “fazer o bem” ou “ajudar os outros” no altruísmo eficaz?
O significado de “fazer o bem” é tema de grande debate e pesquisa dentro da comunidade, e essa comunidade é feita de pessoas que têm pontos de vista morais muito diferentes.
Dito isso, normalmente, no altruísmo eficaz, “fazer o bem” é entendido como permitir que mais pessoas tenham vidas que sejam saudáveis, felizes, plenas; de acordo com seus desejos; e livres de sofrimento evitável — ter uma vida com um bem-estar maior — e preenchê-la sem sacrificar nada de importância moral similar.
O altruísmo eficaz tem esse foco porque aumentar o bem-estar é um objetivo que as pessoas não devem deixar para trás. Isso não quer dizer que o importante seja apenas aumentar o bem-estar e, na prática, as pessoas no altruísmo eficaz têm muitos outros valores.
Uma vez que o que importa moralmente é muito incerto, as pessoas envolvidas no altruísmo eficaz buscam respeitar outros valores amplamente diferentes na sua busca por fazer o bem. O altruísmo eficaz não se refere ao raciocínio de que os “fins justificam os meios” , mas a ser um bom cidadão, enquanto se trabalha ambiciosamente em direção a um mundo melhor.
Leia mais sobre como a 80.000 Horas – uma organização sem fins lucrativos que faz parte da comunidade – define “fazer o bem”, clicando aqui.
Para obter uma definição mais precisa sobre fazer o bem no altruísmo eficaz, veja A Definição de Altruísmo Eficaz, do filósofo e co-fundador do Altruísmo Eficaz, William MacAskill.
Como começou o altruísmo eficaz?
O altruísmo eficaz foi formado quando diversas comunidades em todo o mundo se reuniram, incluindo a Giving What We Can e o Future of Humanity Institute em Oxford, a comunidade racionalidade na Bay Area e a GiveWell (na época em Nova York).
O termo “altruísmo eficaz” foi cunhado em 2011, em Oxford, como parte do nome do Centro para Altruísmo Eficaz (que hospeda este site), mas pegou como um termo para descrever um movimento mais amplo.
Algumas das inspirações intelectuais do altruísmo eficaz são medicina e política baseadas em evidências, utilitarismo aplicado e pesquisas sobre heurística e preconceito sobre o raciocínio humano.
Veja esta fala de Toby Ord sobre a história intelectual do altruísmo eficaz; uma história do termo “altruísmo eficaz” e uma linha do tempo do movimento.
Que recursos inspiraram as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz no passado?
Alguns exemplos de recursos que têm inspirado as pessoas a se envolverem com o altruísmo eficaz (mas não necessariamente representam sua forma atual) incluem:
Doing Good Better, livro de Will MacAskill
80.000 Horas – O Guia de Carreiras, de Benjamin Todd
O Precipício, de Toby Ord (N.R: leia uma resenha e resumo do livro, em português, aqui).
Taking Charity Seriously, de Toby Ord
Our top charities, de GiveWell
Rationality: A-Z, de Eliezer Yudkowsky
Doing Good – A conversation with William MacAskill, de Sam Harris
O porquê e o como do altruísmo eficaz TED por Peter Singer (legendas em português).
A Criança se Afogando e o Círculo em Expansão de Peter Singer
On Caring, de Nate Soares
The most important century, de Holden Karnofsky
500 million, but not a single one more, de Jai Dhyani
An introduction to effective altruism, de Ajeya Cotra
Libertação Animal, de Peter Singer
Effective altruism: an introduction, podcast pelo 80.000 Horas
Porque o altruísmo eficaz é importante?
Resumindo:
Inúmeras pessoas querem fazer o bem.
Algumas formas de fazer o bem conseguem alcançar muito mais do que outras (com a mesma quantidade de recursos).
Essas diferenças não são amplamente conhecidas ou aplicadas.
Isso significa que, ao procurar por maneiras mais eficazes de fazer o bem, torná-las amplamente conhecidas, e aplicá-las, as pessoas interessadas em fazer o bem podem fazer muito mais para enfrentar os problemas mais prementes do mundo.
Além do mais, isso pode ser conseguido mesmo se a quantidade de recursos destinados a fazer o bem não aumentar.
Leia mais.
O que as pessoas interessadas no altruísmo eficaz fazem na prática?
As pessoas interessadas no altruísmo eficaz trabalham em uma grande variedade de assuntos e projetos.
Por exemplo, Benjamin Todd estimou a seguinte distribuição de financiamento entre os assuntos em 2019:
Em termos de como elas contribuem, muitas escolhem empregos com o objetivo de enfrentar problemas prementes. Esses empregos abrangem todos os setores, incluindo instituições sem fins lucrativos e com fins lucrativos que procuram enfrentar esses problemas, pesquisa acadêmica ou posições no governo ou na política.
Mais de 5.000 pessoas se comprometeram em doar, por meio do Giving What We Can, 10% ou mais das suas rendas para organizações que acreditam serem mais eficazes, e mais de 100.000 pessoas fizeram pelo menos uma doação com base nas recomendações da GiveWell.
Um mal-entendido comum é que o altruísmo eficaz se refere apenas a doação de dinheiro para organizações de saúde no mundo todo ou a “ganhar para doar”. Mas menos de metade das doações são destinadas a instituições de caridade mundiais na área de saúde, apenas uma minoria dos membros da comunidade ganham para doar, e o altruísmo eficaz se interessa muito mais a como usar seu tempo de forma eficaz do que ao seu dinheiro. Na verdade, a organização 80.000 Horas defende que, para muitas pessoas, suas decisões de carreira são mais importantes do que as decisões sobre onde doar. Leia mais em “Mal-entendidos sobre o altruísmo eficaz”.
Veja, na próxima pergunta, exemplos de pessoas que praticam o altruísmo eficaz.
Quais são os principais exemplos de pessoas envolvidas com o altruísmo eficaz?
Veja alguns exemplos de:
Pessoas que mudaram suas carreiras após conhecer a 80.000 Horas.
Pessoas que assumiram o compromisso com o Giving What We Can.
O altruísmo eficaz diz que devo ver o ‘fazer o bem’ como meu único foco na vida?
Não, o quanto você deseja focar em fazer o bem em relação aos seus outros objetivos é uma decisão pessoal.
O altruísmo eficaz refere-se à forma de usar os recursos que você quer destinar a fazer o bem da forma mais eficaz possível, quando seu foco for ajudar os outros.
O altruísmo eficaz normalmente inspira as pessoas a tornarem o fazer o bem um foco maior, porque percebem que é possível fazer mais bem do que elas pensavam.
Mas, para a maioria das pessoas na comunidade, fazer o bem é apenas um objetivo importante entre diversos objetivos morais e pessoais. Da mesma forma, enquanto alguns na comunidade doam 50% ou mais das suas rendas para a caridade, outros doam apenas 1%.
Sua decisão se baseará em parte nos seus pontos de vista morais e na sua situação de vida. Muitos simplesmente não podem ter como foco principal em suas vidas ajudar os outros.
Mesmo se você quiser tornar o fazer o bem um foco principal da sua vida, fazer disso o seu único foco é contraprodutivo. Primeiramente porque o que importa moralmente é altamente incerto, e focar em um objetivo moral mal definido excluindo todos os outros pode, na verdade, fazer um mal. Segundo, ter um único objetivo não é bom para o psicológico da maioria das pessoas, o que provocar burnout, reduzindo seu impacto no longo prazo.
Porque as pessoas no altruísmo eficaz não focam em assuntos mais convencionais como X ou Y?
Uma consideração chave para o assunto a ser focalizado é como a sociedade aloca recursos atualmente. Se um problema importante já é amplamente reconhecido, então é provável que muitas pessoas já estejam tentando resolvê-lo. Isso significa que será mais difícil para outras pessoas que decidam trabalhar essa mesma questão e esperem que ela tenha um impacto muito grande. Tudo o mais constante, é possível fazer um bem muito maior em uma área que não esteja obtendo a atenção que merece. Uma maneira de pensar sobre isso é em termos de um “portfólio mundial” – qual seria a alocação de recursos ideal para todas as causas sociais? E onde já fomos mais longe com aquela alocação ideal?
É por isso que os principais assuntos no altruísmo eficaz podem parecer surpreendentes ou estranhos. As pessoas focam sua atenção em assuntos que estão mais longe de obter a atenção que precisam.
Isso significa que os assuntos nos quais a comunidade foca mudarão ao longo do tempo. Se mais pessoas se interessarem pelo altruísmo eficaz, então os assuntos que são foco hoje não serão mais negligenciados, e a comunidade expandirá seu alcance ou passará para algo novo.
Veja aqui mais objeções comuns ao altruísmo eficaz.
E depois?
Se você estiver interessado em aprender como fazer um bem maior, compilamos as listas a seguir de alguns dos melhores recursos sobre o altruísmo eficaz:
Artigos
Podcasts
Livros
Vídeos & bate-papos
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Esta obra é licenciada pela Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0
Autor: EA Handbook
Tradução: Sátia Marini
Revisão: Leo Arruda e Fernando Moreno
Você pode ver a distribuição global dos grupos de AE no Fórum sobre Altruísmo Eficaz, que lista grupos em mais de 70 países.
Quanto menos negligenciado é um assunto, mais terão sido adotadas as melhores oportunidades, e mais difícil será para uma outra pessoa exercer um impacto.
Na verdade, temos bons motivos para acreditar que os retornos sobre o investimento em um assunto sejam basicamente logarítmicos.
Os retornos logarítmicos implicam que se 10 vezes mais recursos tiverem sido investidos em uma causa se comparada a outra, então recursos extras atingirão cerca de 10% mais progresso.
Se os dois assuntos são igualmente importantes, e uma outra pessoa trabalha no mais negligenciado, teremos dez vezes mais impacto.
De 2010 a 2019, o Financiamento Federal Norte-Americano para Segurança da Saúde recebeu cerca de US$141 bilhões. Avaliamos que 55% disso foi gasto no que poderia evitar futuras pandemias. Por exemplo, 4% foi gasto enfrentando a contínua epidemia de ebola, que forneceu infraestrutura para outras possíveis pandemias. Entretanto, 17% foi gasto em ameaças de radiação química e nuclear de uma forma improvável de afetar a disseminação de pandemias futuras.
141 bilhões * 0,55 = 79 bilhões
Ao longo de um período de dez anos, temos US$8 bilhões por ano.
Federal funding for health security in FY2019 Watson, Crystal et al., Health security 16.5 (2018): páginas 281-303. Link arquivado, acesso em: 5 mar. 2020.
A Open Philanthropy também identificou outras fundações e filantropos que trabalhavam nesse assunto antes da pandemia da Covid, os quais acreditamos totalizar US$100 milhões em financiamento.
Crawford, diretor do projeto Costs of War, calcula que os Estados Unidos gastaram US$5,8 trilhões em contraterrorismo em 2001-2022.
5,8 trilhões / 20 anos = US$290 bilhões por ano.
United States budgetary costs of Post-9/11 wars Crawford, Neta C., Watson Institute for International & Public Affairs, Brown University, 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
As mortes por terrorismo entre 1970 e 2020 somaram aproximadamente 456.000. Dados obtidos da Global Terrorism Database 2020, acesso em: 11 ago. 2022.
Observe que Our World in Data relata que “O Global Terrorism Database é a base de dados mais abrangente atualmente disponível sobre ataques terroristas e que os dados recentes estão completos. Entretanto, com base nas nossas análises, entendemos que esses dados de longo prazo estejam incompletos (exceto para os Estados Unidos e Europa). Portanto, não recomendamos este conjunto de dados para inferir as tendências no longo prazo sobre a prevalência do terrorismo global.”
Isso significa que a fonte acima é provavelmente uma contagem aquém das mortes terroristas confirmadas (2010-2020) desde 1970. O número de mortes total seria ainda apenas de 1,2 milhões; muito menor do que o número de mortes pela pandemia.
Deaths from COVID-19:
O The Economist estimou um excedente acumulado de mortes por COVID-19 em 21,47 milhões até junho de 2022, e esse número ainda está aumentando.
Pode-se ver este dado e seu modelo no Our World in Data (página arquivada, recuperada em 28 jul. 2022).
Entendemos essa como a melhor estimativa atual do total de mortes por COVID-19. O número de mortes confirmadas é mais baixo, cerca de 6 milhões, mas ultrapassa o número de mortes provocadas indiretamente ou que não foram relatadas. A metodologia do The Economist compara o número excedente de mortes com a média periódica, para estimar no total quantas outras pessoas morreram e ajustar as subnotificações.
As mortes provocadas tanto pela pandemia quanto por terrorismo têm uma cauda pesada, portanto, as taxas de morte anteriores normalmente subestimarão a magnitude do risco.
Por exemplo, é possível que os terroristas lancem uma arma nuclear em uma grande cidade, o que poderia matar mais de 1 milhão de pessoas. Isso não aconteceu nos últimos cinquenta anos, mas teria sido a principal causa da taxa de mortalidade se tivesse ocorrido. Da mesma forma, poderia ter ocorrido uma pandemia muito pior do que a COVID-19 ou a HIV/AIDS nos últimos 50 anos.
A questão chave então é se o registro histórico é uma subestimação do risco de terrorismo ou de pandemia (ou seja, se as mortes por terrorismo têm uma cauda mais pesada do que as mortes por pandemia).
Parece plausível que o pior cenário da pandemia seja pior do que o do terrorismo. Não há nada que possa excluir o surgimento de uma pandemia mais infecciosa do que a COVID-19, mas com uma taxa de fatalidade de 10-50%, ou pior. E parece ter ocorrido outros quase-acidentes no registro histórico.
Então, o problema de eventos com falta de cauda na amostra pode ter sido pior para a pandemia do que para o terrorismo. Na verdade, a maneira mais plausível para o terrorismo matar mais de 1 milhão de pessoas é, provavelmente, por meio de uma pandemia.
Dado que o terrorismo recebe aprox. 100 vezes mais financiamento do que a prevenção a pandemias, enquanto parece que, historicamente, a pandemia tenha provocado 10 a 100 vezes mais mortes, as correções deveriam ser bem mais pesadas em favor do terrorismo para que a alocação de recursos atual pareça mais equilibrada.
A análise acima foi feita em termos de número de mortes, pois essa é uma métrica importante, mas relativamente bem mensurável. As mortes tanto por pandemia quanto por terrorismo também produzem custos indiretos importantes, e uma comparação ampla precisaria considerar a escala relativa de cada uma delas.
“40,1 milhões [33,6 milhões a 48,6milhões] de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS desde o início da epidemia.” Global HIV & AIDS statistics — Fact sheet UNAIDS, 2022. Link arquivado, acesso em: 11 ago. 2022.
A Open Philanthropy é uma fundação inspirada no altruísmo eficaz. Inicialmente, fundou-se o Johns Hopkins Centre for Health Security (CHS) em 2016. A esse, seguiram-se diversas outras grandes dotações, inclusive uma de US$16 milhões em 2017 e outra de US$19,5 milhões em 2019.
38.659 voluntários, desde 7 de julho de 2022. 1Day Sooner
Antes da COVID-19, o número de pessoas que viviam com US$1,90 ou menos por dia havia sido reduzido para 689 milhões em 2017. Entretanto, estimativas atuais apontam para o primeiro aumento nas taxas de extrema pobreza desde 1998, o que levou a uma estimativa de 731 milhões de pessoas que hoje vivem com menos de US$1,90 por dia.
UN SDG 1 – End poverty in all its forms. UN Statistics, 2022. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
Essas estimativas foram ajustadas considerando que o dinheiro rende mais em países pobres (paridade do poder de compra). São muitas as complicações dessas estimativas, mas fica claro que centenas de milhares de pessoas vivem próximo ao nível de renda de subsistência. Veja “Como se pode conhecer com precisão a distribuição global de renda?” se quiser aprender mais sobre isso.
A linha da pobreza para uma pessoa nos EUA é ter uma renda anual de US$13.590.
13,590 / 365 = US$37,23 por dia.
Isso é 20 vezes mais do que a linha da pobreza internacional de US$1,90, que é ajustada conforme a paridade do poder de compra.
De acordo com o Censo de 2019, trabalhadores em tempo integral com idades entre 25 e 65 anos e nível universitário ou mais ganham em média US$74.000 por anos.
US$74.000 / 365 = US$202,7 por dia
US$202 / 1,9 = 107 vezes.
De acordo com o SmartAsset, uma pessoa com renda de US$74.000 antes dos impostos que viva em Nova York, recebe cerca de US$53.000 após deduzidos os impostos.
De acordo com os cálculos do Giving What We Can, uma renda de US$53.000 após a dedução dos impostos coloca a pessoa entre as 1,3% pessoas com as maiores rendas mundialmente.
O National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido recomenda um gasto de £30.000 por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY) ganho, onde a intervenção é confiável.
“Acima de uma taxa incremental custo-eficácia (ICER) mais plausível de £30.000 por QALY ganho, os órgãos de aconselhamento precisam oferecer uma defesa muito mais forte para apoiar uma intervenção como o uso eficaz dos recursos na NHS” Methods for the development of NICE public health guidance. National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido, Set. 2012. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Na saúde global, é comum ouvir dizer que salvar uma vida equivale a 30 QALYs. Fonte: World Bank (Box 1.1)
Isso leva a um custo para salvar uma vida de 30 x £30.000 = £900.000 = $1,1 milhão.
Nos EUA, diferentes agências globais estimam “o valor da vida”, e usam esses números para priorizar projetos de investimentos. Em 2020, a Federal Emergency Management Agency estimou o valor de uma vida em US$7,5 millhões. Esta estimativa tem flutuado com base no contexto. Por exemplo, em 2014, o US Department of Transport estimou o valor da vida entre US$5,2 milhões e US$13,0 milhões.
A estimativa da GiveWell” do custo para salvar uma vida tem variado ao longo do tempo (dependendo das suas pesquisas, e das oportunidades disponíveis), mas tem ficado entre US$2.500 e US$7.500. Em 2021, a GiveWell estimou que US$5.500 gastos em distribuição de mosquiteiros tratados com inseticida salvarão uma vida em média.
Você pode ver as estimativas mais atualizadas na análise custo-eficaz total: How We Produce Impact Estimates GiveWell, July 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
“Mais de 110.000 doadores confiaram na GiveWell para investir suas doações. Juntos, eles doaram mais de US$1 bilhão às organizações que recomendamos. Essas doações salvarão mais de 150.000 vidas e fornecerão auxílio pecuniário de mais de US$175 milhões para os pobres no mundo.” About GiveWell, GiveWell, Jul. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
“Quando a Wave foi lançada no Senegal, nossa média de transferência tinha um custo de 3 a 5 vezes mais se fosse feita por meio dos maiores sistemas de transferência monetária da época. Multiplicado por nossos milhões de usuários ativos ao mês, isso alcança uma economia de mais de US$200 milhões por ano, … cerca de 1% do PIB do Senegal”.
Working at Wave is an extremely effective way to improve the world. Ben Kuhn, o jul. 2021. Link arquivado, acesso em: 26 jul. 2022.
Conversa: “Nosso melhor modelo integral Meena atingiu a … pontuação SSA (Média de Sensibilidade e Especificidade) de 72%… nossa pontuação SSA de 72% não está longe dos 86% alcançados por pessoas comuns.” Towards a Conversational Agent that Can Chat About…Anything. Adiwardana et. al., Google, 28 jan. 2020. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Matemática: Os gráficos no artigo anexo mostram que as respostas corretas do Minerva do Google estão acima de 50% dos “problemas de competições de matemática no ensino médio”. Outros modelos estado-da-arte alcançavam uma precisão de menos de 10%.
Minerva: Solving Quantitative Reasoning Problems with Language Models. Dyer et. al, Google, 30 Jjun. 2022. Link arquivado, acesso em: 28 jul. 2022.
Piadas: O AI PaLM do Google pode oferecer explicações sobre piadas nunca contadas antes, inclusive de piadas que não estejam disponíveis na internet. Por exemplo:
“Piada: Você viu que o Google acaba de contratar uma baleia falante para a equipe de TPU? Ela mostra a eles como se comunicar entre dois pods diferentes!
Explicação: TPUs são tipos de chips de computador que o Google usa para aprendizagem profunda. Um pod é um grupo de TPUs. Um pod também é um grupo de baleias. A piada é que as baleias podem se comunicar entre dois grupos de baleias, mas o falante está interpretando que a baleia pode se comunicar entre dois grupos de TPUs.”
Pathways Language Model (PaLM): Scaling to 540 Billion Parameters for Breakthrough Performance. Narang et. al., Google, 4 abril 2022. Link arquivado
Imagens: Imagens que exemplificam a OpenAI’s Dall-E 2 podem ser vistas aqui.
Codificação: A Seção 3.1 no artigo de pesquisa de Equipe de Vendas em‘A Conversational Paradigm for Program Synthesis‘ sobre CodeGen, suas ferramenta de IA transformando instruções humanas em códigos, descreve que o CodeGen alcança 75% da pontuação do HumanEval. Isso significa que ele resolve 75% dos desafios de programação descritos com linguagem humana comum no conjunto HumanEval.
É difícil estimar o número de pesquisadores focados em determinado assunto pois é difícil definir, pra início de conversa, o trabalho de muitos pesquisadores em múltiplos assuntos, e é difícil conhecer as limitações para ser um pesquisador”. Assim, esses números devem ser entendidos como uma estimativa para um fator de três ou mais, e podem estar fora de uma ordem de magnitude, dependendo de algumas interpretações da questão.
Em 2020, 87.000 autores publicaram pesquisas de IA no arXiv. O Relatório Mundial de Talentos de IA 2020 sobre as estimativas de Elementos de IA tem ainda mais pessoas do que o trabalho de desenvolvimento global em IA, contando com 155.000 pessoas registradas nas mídias sociais como trabalhadores em pesquisa ou engenharia de IA. Entretanto, entendemos que algumas pessoas que trabalhem em engenharia de IA não estejam alocadas na engenharia de novos avanços em IA. Pegamos a menor estimativa de 87.000 e a reduzimos à metade, chegando a uma estimativa de 40.000.
Em 2021, a Gavin Leech estimou que 270 a 830 pessoas FTE trabalhavam em Segurança de IA. Entretanto, o topo deste intervalo de estimativa baseia-se no que pensamos ser uma noção muito ampla do que constitui a pesquisa em alinhamento de IA, e uma grande parte da soma foi direcionada para agregar tempo de muitos pesquisadores que destinam uma pequena fração do seu tempo à pesquisa de segurança, enquanto nosso objetivo é quantificar o número de pesquisadores focados em segurança de IA.
A AI Watch tentou contar o número de pesquisadores em IA, e encontrou 160 pesquisadores notórios em Segurança de IA. Isso inclui muitas pessoas que não publicaram sobre segurança de IA em mais de uma no, embora para os 87.000 estimados acima, todos publicaram no ano passado. Por outro lado, os limites para ser um pesquisador notável podem ser muito mais altos do que publicar na arXiv.
Nossa estimativa final é que 300 pesquisadores estejam focados em segurança de IA.
Em 2018, 9,56 bilhões de animais de fazenda foram abatidos para produção de carne nos EUA. Esse número já deve ter aumentado desde então. Isso inclui 9,16 bilhões de galinhas, 237 milhões de perus, 125 milhões de porcos, 34 milhões de gado e 2 milhões de ovelhas. Fonte: visualizada em Nosso Mundo em Dados, usando dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Em 2021, aproximadamente 6,5 milhões de animais passaram por abrigos de animais nos EUA. Em 2011, este número era de 7,2 milhões. Assumindo-se que houve uma redução constante, isso significa que, em 2018, aproximadamente 6,7 milhões de animais passaram por abrigos.
9,56 bilhões/ 6,7 milhões = 1427 vezes o número de animais em pecuária industrial.
Estatísticas de Animais de estimação. American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, 2021. Link arquivado, acesso em: agosto de 2021.
Gastos com abrigos de animais:
Andrew Rowan calculou em US$5 bilhões os financiamentos nas 3000 principais organizações de abrigo de animais dos EUA em 2018, publicado neste artigo “Cat Demographics & Impact on Wildlife in the USA, the UK, Australia and New Zealand: Facts and Values” Rowan et. al. (2020), Journal of Applied Animal Ethics Research, pages 7–37.
Andrew Rowan confirmou os dados por trás desses cálculos em correspondência conosco.
Financiamento para defesa de animais de fazenda:
Pesquisas da Open Philanthropy publicadas aqui mostram os seguintes financiamentos para grupos de defensa de animais e fazenda em 2018:
– US$32,3 milhões para grupos Formalizados no EUA (PETA, PCRM, HSUS, ALDF, ASPCA)
– US$32,6 milhões para grupos novos e grandes nos EUA (CIWF, WAP, RSPCA, HSI)
– US$32,2 milhões para todos os outros grupos nos EUA
32,3 + 32,6 + 32,2 = US$97,1 milhões
106,5 milhões de galinhas estão atualmente em locais livres de gaiolas apenas nos EUA, desde maio de 2022, conforme relatado pelo Panorama de Mercados de Ovos da USDA, comparado com 17 milhões em 2016. Acreditamos que outras 100 milhões já estão livres de gaiolas na Europa como resultado do trabalho da Open Wing Alliance, embora esse número seja mais difícil de atribuir aos europeus.
Além disso, defensores garantiram compromissos corporativos que, se implantados, devem alcançar mais de 500 milhões de galinhas em breve.
Após se engajar com a GFI, o governo dos EUA anunciou uma concessão de US$10 milhões para a criação de um centro de excelência em agricultura celular na Universidade Tufts. A National Food Strategy, entidade independente do Reino Unido, recomendou o investimento de £125 milhões em pesquisa e inovação sobre proteínas alternativas. Fonte: GFI Year in Review 2021 (página 3)
A linha do tempo completa dessas previsões pode ser encontrada no Metaculus.